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Exemplo de superação

Amélia

Mãe, mulher amor e eternidade

06/05/2025 22h22Atualizado há 1 semana
Por: Vieira de Melo
Fonte: Por Vieira de Melo
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Eu sou filho de uma mulher extraordinária, uma mulher corajosa como tantas brasileiras de sua época. Nascida em berço humilde, órfã de mãe que morreu com complicações de seu parto, Amélia Severina enfrentou desafios no então sertão paulista dos anos 30 sem acesso a educação, a saúde e a um trabalho digno. Já adolescente começou sua dura jornada trabalhando na lavoura de café na região nordeste de SP.

Já no início da década de 40 conheceu Jonas Vieira de Melo, um jovem mineiro, de São Sebastião do Paraíso, que migrou para o estado de São Paulo a procura de trabalho. Com uma inteligência acima da média de seu tempo, aprendeu vários ofícios, se tornou empreendedor na área de modernização de fazendas, instalação de equipamentos e máquinas para geração de energia em locais isolados.

Começou aí uma parceria de amor e trabalho. Amélia teve 19 partos, alguns a luz de lamparinas, sendo 6 abortos, 13 crianças vivas que se reduziu a 9 sobreviventes pois 4 delas morreram de doenças como sarampo, varíola, malária que hoje já diminuíram seus impactos nas famílias graças aos avanços da saúde pública com vacinas e tratamentos preventivos. Cuidar de uma família tão numerosa era um trabalho duro, artesanal, sem as facilidades da tecnologia de hoje. Amélia sobreviveu, apesar da doença de chagas no intestino adquirida no tempo em que morava em casas de taipas.  

As irmãs mais velhas, concluindo o ginásio casaram-se mais cedo, como era a tradição da época. Atraídos pela construção de Brasília, nós pai, mãe e os 7 adolescentes e meninos, chegamos a Goiânia, a capital de Goiás e uma das bases de suporte para a construção da nova capital do Brasil. Amélia ficou viúva em Goiânia, seu companheiro Jonas morreu aos 55 anos de câncer de próstata, na época não havia o SUS para garantir o acesso a um tratamento eficaz. Foram tempos difíceis para os órfãos e a viúva.

Essa guerreira manteve sua vontade de viver, seu bom humor e sua espiritualidade dividida entre a devoção a Nossa Senhora e a mediunidade conectada a Pai João, uma das entidades mais amorosas da umbanda brasileira. Eu,  na minha adolescência já lia os livros proibidos pela ditadura de 64, curtia a MPB, a jovem guarda e o pop rock e me surpreendia vendo a minha mãe dividindo comigo as mesmas preferências. Ela adorava as canções do jovem Belchior. Ah, meus amigos a adoravam e se transformaram também amigos daquela senhora simples, humilde mais viva, conectada com a realidade. Ela nos deixou cercada pelo carinho de filhos, netos e amigos.

A vida de minha mãe sempre me inspirou. Com tantas dificuldades ela conseguiu superar as limitações de seu tempo. Amélia, com certeza vivendo os dias hoje, abraçaria as bandeiras da igualdade de gênero, de trabalho, de educação, de oportunidades que todas as mulheres merecem. Estaria na luta por um mundo melhor, mais justo para todos. Ela não ficou nas sombras deste mundo. Sua luz brilhou e continua iluminando a minha vida e de todos que tiveram a oportunidade de com ela conviver.

Beijos Mamãe, eu te amo. Obrigado por me trazer a este mundo!

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