Quando o golpe militar de 1964 aconteceu eu tinha 12 anos de vida, saindo da infância para iniciar a minha adolescência. Dois anos depois, Já estudante secundarista, iniciava minha militância política na luta contra a ditadura. Sim, naquela época o Brasil vivia sobre uma forte mobilização popular encabeçados pelos trabalhadores urbanos e rurais, estudantes, artistas, jornalistas e líderes políticos na busca do reestabelecimento das liberdades democráticas. Concentrações públicas, passeatas ,manifestos no parlamento e na imprensa expressavam os sentimentos daqueles que se opunham ao atraso social e econômico, à censura e a violência politica.
O golpe militar, coordenado pelas forças anti-democráticas e entreguistas, com o apoio dos Estados Unidos, veio para impedir a implantação das reformas de base preconizadas pelo governo do presidente João Goulart que buscavam a justiça agrária, a justiça tributária e os avanços na educação. Os latifundiários, banqueiros, empresários entreguistas, os setores reacionários da igreja aliados aos grandes veículos de comunicação, não aceitavam os avanços sociais defendidos pelo governo à época.
À medida que os golpistas viam o crescimento da oposição popular à ditadura, novas medidas foram adotadas para calar a resistência democrática. A repressão do regime endureceu suas ações com AI5, fechando os parlamentos, cassando mandatos, reprimindo as instituições, censurando a imprensa, prendendo, exilando, torturando e matando os que se opunham à ditadura. Vivi dentro deste clima de medo, falando baixo, participando de reuniões às escondidas com receio dos chamados “dedos duro” pagos para e nos vigiar e nos denunciar aos órgãos de repressão do regime militar.
Resistimos, vencemos o governo autoritário com muitas lutas e sacrifícios. Perdemos amigos que morreram sobre tortura nos quartéis e nos porões da ditadura. Sentimos muitas saudades daqueles que tiveram que deixar o país para não perderem suas vidas. Hoje, os mal informados e àqueles mal intencionados, tentam reescrever a história ao negarem a existência da ditadura e aos males causados por ela ao nosso país. A ironia disso tudo é que agora eles saem às ruas, realizam manifestações com todos direitos de ir, vir e protestar garantidos pelo estado democrático de direito. Estado democrático de direito que nós conquistamos com resistência, sofrimento e esperança. Como já dizia o compositor, poeta e cantor Chico Buarque: “Amanhã há de ser novo dia.”
Chegamos até aqui, corremos riscos com a tentativa frustrada de golpe de Bolsonaro e seus seguidores. Por isso temos que manter a vigilância e não desistir da luta pela manutenção da democracia. Somente dentro do estado democrático de direito há espaço para as mudanças que o nosso país ainda precisa. A luta pela inclusão social com oportunidades de trabalho, com acesso a educação, a moradia, ao saneamento básico, a saúde, aos esportes, cultura e o entretenimento ainda é prioridade em nosso país. A história já mostrou que esses direitos não chegam de graça à população, eles são conquistados com muita luta e determinação. Do fim da ditadura aos dia de hoje já evoluímos muito no campo das conquistas sociais e econômicas mais ainda falta muito para chegarmos a um Brasil plenamente desenvolvido. Como se diz no jargão popular: A luta continua companheiro!
Sensação
Vento
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