ALETO - MARCA DA GESTÃO
Religiosidade

Quais são as principais religiões de matriz africana no Brasil?

Essas religiões conservaram expressões da religiosidade africana

12/03/2025 08h36Atualizado há 2 semanas
Por: Vieira de Melo
Fonte: Galileu Revista

Quais são as principais religiões de matriz africana no Brasil?

Surgidas como manifestação cultural dos povos escravizados e também refúgios, essas religiões conservaram expressões da religiosidade africana

 Desde o início da escravidão no Brasil, no começo do século 16, até a assinatura da Lei Áurea, em 1888, o Brasil recebeu cerca de 6 milhões de pessoas negras escravizadas, o que é metade do total que foi levado às Américas. “Já entre o final do século 18 e início do século 19 e, até mesmo, após a proibição do tráfico de escravos, vieram para o Brasil os povos sudaneses, originários de Benin, Costa do Marfim, Gana, Mali, Nigéria e Togo. Esse grupo étnico-cultural falava língua semelhante, apresentavam hábitos ou religiões análogas e, por sua vez, trouxeram para o Brasil o candomblé”, afirma a pesquisadora e professora Wéllia Pimentel Santos em um artigo científico.

No entanto, as péssimas condições a que eram submetidos os escravizados, como a desnutrição, a falta de acesso à educação e os trabalhos forçados, impedia que houvesse entre essas pessoas uma manifestação cultural organizada e massiva. Mas não era só isso. O antropólogo e sociólogo brasileiro Darcy Ribeiro afirmou no livro “O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil” que diversidade cultural e linguística dos contingentes negros introduzidos no nosso país, “acrescida dessas hostilidades recíprocas que eles traziam da África, impediu a formação de núcleos solidários que retivessem o patrimônio cultural africano”.

Com isso, formaram-se diversas religiões de matriz africana, ou seja, que herdam elementos das religiões africanas, não só como expressão espiritual, mas também como refúgio. “Entre todos os mecanismos de sobrevivência, a religião foi um dos que mais colaboraram para manter vivas as tradições de origem africana. O culto aos orixás chegou ao Brasil juntamente com os africanos que atravessaram o Atlântico e foram escravizados aqui na América portuguesa. Do encontro cultural entre os elementos das três matrizes formadoras da sociedade brasileira - indígena, africano e europeu -, surgiram as chamadas religiões afrobrasileiras”, disse em artigo Gilciana Paulo Franco, especialista em cultura africana e afro-brasileira.

Aliás, por “matriz”, entende-se a origem dos ritos e costumes em questão. No Brasil, temos quatro principais, as matrizes indígena, ocidental, oriental e africana. As religiões que se originaram da matriz africana reinventaram as formas de crer dos povos africanos.

Estas são as principais religiões de matriz africanas com representação no Brasil:

Candomblé: é um termo guarda-chuva que reúne práticas de povos originários, principalmente, de países atualmente conhecidos como Angola, Nigéria e República do Benim. Cultuam os orixás, voduns ou nkisis (divindades dos povos iorubá, jeje e banto, respectivamente). Entre seus ritos estão as oferendas (ebós) aos orixás para agradecer ou pedir proteção, danças rituais, incorporações, festividades em homenagem aos orixás e consulta ao jogo de búzios, entre outros. É importante dizer que o candomblé não se considera nem monoteísta nem politeísta. “Cultuamos as energias e forças divinas manifestadas nos Orixás, que são entendidos como emissários de Olodumaré, responsáveis por intermediar a relação entre o divino e o humano”, afirma o babalorixá Tom Oloorê.

Umbanda: religião fundada pelo médium brasileiro Zélio De Moraes em 1908 e que incorpora elementos africanos, cristãos, indígenas e espíritas. A palavra é derivada de “u´mbana”, um termo que significa “curandeiro” na língua banta falada na Angola, o quimbundo. Na umbanda, cultua-se apenas um deus, Jesus Cristo, mas os orixás também têm forte influência. Além disso, alguns espíritos, como o Preto Velho e a Pombagira, são considerados guias e provedores de cura e proteção, e podem ser incorporados, algo que está fortemente relacionado à natureza mediúnica desta religião.

Quimbanda: é uma ramificação da umbanda, porém com mais foco em entidades como Exu e Pombagira, e menos em orixás. Escreve a autora Juliana Brent Carvalho: “Na quimbanda, as entidades espirituais ditas da linha da esquerda - que na umbanda geralmente ocupam posição muito importante, porém subalterna e periférica, que não rege o culto - assumem a primazia. (...) Algumas entidades dessa linha se apresentam como o ‘povo da rua’, espíritos de moradores e crianças de rua, andarilhos, prostitutas, malandros (...) No lugar de protetores, guardiões e mensageiros, lidam bem com as mazelas humanas, com o que é sombrio”.

Tambor de Mina: se estabeleceu no começo do século 19 no Maranhão, trazido por escravizados da Costa da Mina, na Nigéria. Sua principal característica é ser uma religião matriarcal, em que as mulheres assumem posição de liderança nos terreiros. Nos cultos, ocorrem as chamadas possessões ou transes, com os devotos incorporando espíritos de indígenas e entidades das matas, entre outros. Possui forte influência do catolicismo.

Batuque: surgiu no Rio Grande do Sul no século 19. A palavra batuquese se originou da palavra “batukajé”, um termo banto, numa referência ao bater dos tambores. Esta religião foi organizada em subgrupos denominados nações. Cada nação se difere da outra a partir de aspectos relacionados a seus rituais, entretanto, todas elas cultuam os mesmos doze orixás: Bará, Ogum, Iansã ou Oiá, Xangô, Obá, Odé, Otim, Ossanha, Xapanã, Oxum, Iemanjá e Oxalá.

Terecô: surgido no Maranhão e também chamado de “tambor da mata”, está orientado para o culto de entidades espirituais conhecidas como encantados — humanos que, depois da sua morte, encantaram-se e vivem nas matas, e que são incorporados pelas mães, pais e filhos de santo. Os espaços onde são realizados festejos, consultas, trabalhos espirituais são chamados de tendas.

Xangô: religião presente em Pernambuco e Alagoas. Embora muito próxima do candomblé, também tem elementos do catolicismo. Os devotos se descobrem ligados a algum orixá e assim permanecem por toda a vida. Para agradá-lo, realizam danças e o sacrifício de animais.

Cabula: surgiu na Bahia no final do século 19 e às vezes é considerada precursora da umbanda. Uma reunião de cabulistas é chamada de “mesa” e o líder de cada mesa é o “embanda”, a quem todos devem obedecer. A finalidade da mesa é o contato direto com o Santé, o conjunto de espíritos da natureza que moram nas matas. “A cabula era um ritual para abater os inimigos com feitiço, executando continuamente líderes escravagistas, especialmente aqueles que perseguiam os negros fugidos da senzala”, afirma o autor e pesquisador do tema Diamantino Fernandes Trindade.

Omolokô: presente no Rio de Janeiro, nordeste de São Paulo, na zona da mata mineira e em parte do Espírito Santo. O nome, a princípio, é uma junção de m (filho) e Oko (fazenda), do iorubá. Mas pode também estar ligado ao povo Loko, que estava dividido em tribos menores ao longo dos Rios Mitombo, Bênue e Níger, e no litoral de Serra Leoa. O ritual de Omolokô possui as mesmas entidades religiosas identificadas com umbanda, candomblé e até o catolicismo.

Egungun: “Egungun” é um espírito ancestral na mitologia iorubá — a palavra deriva de “egun”, que significa osso ou esqueleto. Seu culto é praticado principalmente na Ilha de Itaparica, na Bahia. É uma religião que entende os mortos como uma grande força influente na vida dos vivos. O objetivo principal do cultos é agir como uma ponte entre os vivos e seus antepassados e também corrigir retroativamente fatores desfavoráveis que ocorreram nas sete gerações anteriores de uma pessoa.

 

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou com palavras ofensivas.
Ele1 - Criar site de notícias