Criada pela Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM, a campanha Setembro Amarelo tem a finalidade de valorizar a vida, com o objetivo reduzir os riscos e índices de suicídio.
A médica psiquiatra Laila Paiva, do Hospital VITA, em Curitiba, explica que o comportamento suicida, embora cada vez mais trazido à tona por políticas públicas e campanhas de prevenção, ainda é marcado por tabu e vergonha, o que leva muitas pessoas a evitarem um pedido de ajuda.
Segundo ela, o problema é mais frequente do que se imagina. Ao redor do mundo, o suicídio é a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, sendo que o índice de homens é duas vezes maior que de mulheres. No Brasil, a taxa de mortes por suicídio em 2019 foi de cerca de seis para cada 100 mil habitantes e na região sul os números foram proporcionalmente os mais altos de todo o país. Para efeito de comparação, a taxa de óbitos no trânsito no Brasil nessa mesma época foi de cerca de 13 para 100 mil habitantes.
A Dra. Laila conta que estudos mostram que a maior parte das pessoas que cometeram suicídio passaram por consulta com clínicos gerais ou especialistas no ano anterior à morte, sendo que um quinto delas passou por algum atendimento até um mês antes de morrer. “Esse dado alerta tanto para a oportunidade que esses profissionais têm de investigar a presença de uma doença mental, como para a importância de o paciente se abrir com o médico de confiança, sendo ele psiquiatra ou não”, destaca a especialista.
Estima-se também que o risco de suicídio entre pacientes internados em hospitais gerais seja três vezes maior do que o observado na população geral. Vários fatores contribuem para isto: a dor, a solidão, o sentimento de vulnerabilidade e impotência frente a uma doença grave e/ou crônica, o medo de desfechos clínicos negativos e do sofrimento, bem como o receio de não poder retomar a vida como era antes.
Diante de pensamentos suicidas é importante falar abertamente sobre eles. Manter conexões com pessoas empáticas, sejam elas familiares, amigos ou profissionais da saúde, é imprescindível para que a pessoa se fortaleça. Ao surgir pensamentos ruins, a pessoa deve procurar compartilhar com alguém caso esteja sozinha, uma opção é entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida - CVV, pelo número 188, que durante 24 horas possui alguém disponível para escutar e acolher a pessoa, alerta a psiquiatra.
A médica ressalta também sobre a importância da pessoa lembrar das razões que tem para continuar viva: família, amigos, valores, projetos, religião ou crenças espirituais, lembranças de dias felizes, animais de estimação. “É importante tornar essas razões concretas e acessíveis para um momento de crise: uma boa dica é montar uma caixinha com objetos que remetem àquilo que ela identificou que é mais importante. Às vezes, uma pasta com fotos e lembretes no celular já é suficiente”, complementa a Dra. Laila.
Por fim, a médica reforça que a maior parte das tentativas de suicídio ocorrem entre pessoas que têm uma doença mental, muitas vezes ainda não diagnosticada. Por isso, diante de pensamentos suicidas a pessoa não pode hesitar em procurar um psiquiatra, profissional que estará preparado para acolher, diagnosticar e tratar. “Com o tratamento adequado, é possível voltar a viver uma vida satisfatória e ao olhar para trás perceber que o que considerava um problema sem solução era na verdade apenas um problema transitório”, salienta.
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